Saúde Mental e NR-1: o papel dos gestores no cuidado com as pessoas
Gestão de RH | 25 de abril de 2025

Saúde mental é um assunto cada vez mais comentado por todos nós e com toda razão. O ambiente de trabalho, que antes era encarado como um lugar “técnico” e apenas produtivo, passou a ser também um espaço de relações, emoções, sobrecargas e, sim, de adoecimento, infelizmente.
A boa notícia? Isso não está mais sendo ignorado. Com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), empresas agora são obrigadas a olhar para os riscos psicossociais com a mesma seriedade com que já olham para riscos físicos ou químicos. E, nesse novo cenário, o papel da liderança se torna ainda mais central.
Neste artigo, você vai entender de forma clara e prática qual é o papel dos gestores na promoção da saúde mental e na aplicação da NR-1. Porque cuidar de pessoas deixou de ser opcional e é algo também estratégico e urgente. Boa leitura!
O que é a NR-1 e por que ela importa?
A Norma Regulamentadora nº 1, criada nos anos 70 e atualizada recentemente, é a base de todas as outras NRs brasileiras. Ela traz diretrizes gerais para garantir ambientes de trabalho seguros, saudáveis e organizados.
Se antes ela focava apenas em riscos físicos, hoje a história muda um pouco e a saúde mental entrou definitivamente como um tema importante de ser destacado. Nesse sentido, a Portaria nº 1.419, de 2024, determinou que as empresas devem avaliar e incluir riscos psicossociais dentro do seu Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), como parte da Gestão de Riscos Ocupacionais (GRO).
E por que isso importa agora? Porque o estresse, a ansiedade, a sobrecarga e o assédio não são apenas "problemas pessoais". Eles impactam diretamente o clima, a produtividade, a segurança e a reputação da empresa.
Riscos psicossociais: o que são e por que se tornaram prioridade
A definição do Ministério do Trabalho é clara: riscos psicossociais são fatores que afetam a saúde emocional e mental do trabalhador, como:
- Sobrecarga e ritmo de trabalho excessivo
- Falta de autonomia ou controle sobre o próprio trabalho
- Relações interpessoais conflituosas
- Ambiente tóxico ou cultura de medo
- Falta de apoio da liderança
- Exigências emocionais constantes
Esses riscos não são subjetivos, como muitos podem pensar. Eles têm impacto direto em afastamentos, burnout, queda de desempenho, rotatividade e até acidentes de trabalho.
O papel dos gestores na prevenção e promoção da saúde mental
Algo que ficou bastante evidente com a NR-1 atualizada, é que os gestores não podem mais se isentar de lidar com a saúde mental dos seus colaboradores. Não se trata de substituir profissionais para lidar com essa situação, claro, mas sim de adotar posturas de liderança que previnam adoecimentos e fortaleçam o bem-estar coletivo.
1. Reconhecer sinais de problemas emocionais na equipe
Muitas vezes, o colaborador não vai falar que está mal. Mas o corpo fala: atrasos frequentes, baixa produtividade, mudanças de humor, isolamento e irritabilidade são sinais comuns de exaustão emocional.
Gestores atentos, com escuta ativa e empatia, fazem diferença enorme nessa hora.
2. Promover ambientes seguros (emocionalmente também)
Não adianta investir em treinamentos técnicos se a cultura da empresa permite assédio, humilhações ou metas abusivas. O gestor é quem dá o tom do time e, portanto, tem a responsabilidade de criar um espaço em que as pessoas se sintam seguras para ser quem são.
3. Atuar no mapeamento dos riscos psicossociais
Com a exigência de incluir esses riscos no PGR, os gestores devem colaborar ativamente com o RH, levantando situações de potencial risco emocional nas equipes.
A NR-1 e o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR)
Entendendo o que mudou
A NR-1 ganhou novas camadas com a atualização de 2024. Agora, a PGR deve considerar os riscos psicossociais, além dos tradicionais riscos físicos, biológicos, químicos e ergonômicos.
Essa atualização levou a norma para um patamar mais estratégico e moderno, integrando saúde física e mental na mesma política de prevenção.
O ciclo proposto pela NR-1 segue cinco etapas:
- Identificação de riscos
- Análise qualitativa e quantitativa
- Planejamento de respostas
- Acompanhamento e monitoramento
- Reinício do ciclo com base nos aprendizados
E tudo isso deve estar documentado e atualizado de forma contínua. Para os gestores, isso significa mais do que participar de reuniões — significa assumir responsabilidade pelas condições reais de trabalho do seu time.
Capacitação da liderança: um novo pilar de segurança
Um ponto-chave da NR-1 é a necessidade de treinamentos regulares para gestores sobre:
- Identificação de riscos psicossociais
- Técnicas de comunicação não violenta
- Práticas de liderança empática
- Estratégias de acolhimento emocional
- Protocolos de segurança psicológica
Não basta mais saber entregar resultados. O líder moderno precisa saber cuidar de gente, porque são as pessoas que fazem os resultados acontecerem
O papel do RH na integração entre norma e cultura organizacional
Embora os gestores estejam na linha de frente, o RH tem papel estratégico nessa transformação. Por isso, cabe ao RH:
- Desenvolver treinamentos alinhados à NR-1
- Integrar o cuidado emocional à cultura da empresa
- Fornecer canais seguros de escuta e denúncia
- Monitorar indicadores de bem-estar e absenteísmo
- Trabalhar junto à liderança para promover mudanças reais
A verdade é que não dá mais para tratar a saúde mental como algo separado da gestão de pessoas. A norma existe, sim, mas quem faz ela acontecer são as pessoas que compõem a cultura organizacional.
O que as empresas ganham com a aplicação da NR-1 focada em saúde mental?
1. Redução de afastamentos e ações trabalhistas
Quando há cuidado com saúde mental, os afastamentos caem, o número de acidentes também, e a chance de processos judiciais relacionados a assédio ou ambiente insalubre diminui consideravelmente.
2. Aumento do engajamento e retenção
Colaboradores que se sentem acolhidos, valorizados e respeitados tendem a permanecer mais tempo na empresa, produzir com mais qualidade e atuar com mais propósito.
3. Reputação de marca empregadora
Empresas que investem em ambientes saudáveis passam a ser desejadas por talentos e ganham pontos também com clientes, fornecedores e parceiros.
4. Vantagem competitiva sustentável
Saúde mental não pode ser vista como “custo”, e sim investimento em longevidade do negócio. Um time doente compromete entregas. Um time saudável sustenta o crescimento com consistência.
E as micro e pequenas empresas?
A NR-1 também contempla as micro e pequenas empresas (MPEs), inclusive com ferramentas simplificadas, como a Declaração de Inexistência de Riscos (quando comprovado que não há riscos significativos).
Mas atenção: o fato de ser pequena não tira a responsabilidade de cuidar da saúde dos colaboradores. Mesmo empresas de pequeno porte podem e devem implementar ações simples de escuta ativa, treinamentos básicos e programas de apoio emocional.
Conclusão: saúde mental e NR-1 são a base de um futuro melhor
A saúde mental e a NR-1 andam juntas na construção de ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e sustentáveis. A nova legislação veio para mostrar que cuidar de pessoas é obrigação — e ignorar isso pode custar muito caro.
Os gestores estão no centro dessa mudança. São eles que, com atitudes diárias, moldam o ambiente emocional das equipes. E quando esse cuidado é feito de forma intencional, com apoio do RH, da cultura organizacional e das ferramentas certas, todo o time cresce junto.
A prevenção começa com a escuta. O cuidado começa com o exemplo. E a transformação começa com a liderança.
Como você tem lidado com essa questão em sua organização?